sexta-feira, 26 de março de 2010

A (falta de) ética na escola

Notícia de "O Estado de São Paulo" do dia 02 de novembro destaca: Quem cola mente mais, diz estudo. Fala que uma pesquisa mostra que atitudes na escola refletem as da vida adulta. Será que precisávamos mesmo de uma pesquisa para saber isso?

"Uma vez mentiroso, sempre mentiroso", costumam dizer os pais. Um estudo nacional feito nos Estados Unidos garante que existe verdade nisso. Os resultados mostram que pessoas que colaram em exames no ensino médio são consideravelmente mais propensas a serem desonestas na vida adulta, segundo um relatório divulgado pelo Josephson Institute of Ethics, em Los Angeles.

Como podemos encarar o recente caso da "universitária de vestido curto" da Uniban? Pior de tudo: o tema é antigo e se repete constantemente. Há alguns anos escrevi um artigo (nem lembro para qual revista ou jornal) chamado "O exemplo que vem de cima". Vale a pena repetí-lo aqui...

Hoje, quase todas as notícias veiculadas nos remetem a um único assunto: a crise de valores, a ausência de ética, a desonestidade deslavada e generalizada. Termos como “mensalão” já se tornaram cotidianos, e a indignação inicial, aos poucos, transforma-se em resignação.

Dólares na cueca? Motivo de riso. Caixa 2? Todo mundo tem. Compra de voto? Sempre foi assim. Pirataria? O original é caro. Sonegar impostos? Forma de sobrevivência. Pagar propina? Só assim acontece. E por aí vai... Respostas simples, simplistas e cínicas acabam por nos fazer acreditar que tem que ser assim.

Está nos faltando indignação! Não aquela emocional, de momento, que temos ao tomar conhecimento do fato. Falta-nos manter o inconformismo o quanto for necessário, até que as mudanças aconteçam.

Como está, o que esperar do futuro de nosso país? Crianças que aprendem a conviver com esses temas como algo normal serão melhores governantes?

A Escola tem um papel primordial nesta questão. A Escola deve ser a primeira a mostrar sua indignação, a primeira a solicitar uma mudança de postura da socidade como um todo. Mais ainda se falamos de uma Escola Católica!

E não basta a revolta manifesta com tudo que se apresenta nos noticiários. É preciso dar o exemplo, já que ele não vem de cima.

Não podemos praticar ou deixar que pratiquem pirataria – seja programas de computador que permitimos em nossos laboratórios, seja a reprografia de livros que não vemos acontecer em nossas dependências.

Não podemos deixar de fazer o justo por que a concorrência também não pratica. Não podemos aceitar propostas indecorosas de fiscais, quaisquer que sejam, para “facilitar nossa vida”. Em resumo, não podemos fazer como todos fazem!

Também é necessário ampliarmos cada vez mais a educação para a ética, para a honestidade, para a cidadania, para os valores. E nesta perspectiva, a intolerância para temas banais como a “cola” deve ser retomada e repisada à exaustão.

Afinal, se hoje rimos quando os alunos nos dizem que “quem não cola não sai da escola”, provavelmente, apesar de todos os nossos esforços, todos estaremos rindo quando estes mesmos alunos estiverem com dólares na cueca...

Retomo e concluo. Sim, precisamos mostrar nossa indignação com essa crise política que se apresenta há alguns meses. Mas não basta falar do exemplo que não vem de cima: devemos dar nosso exemplo de que é possível uma sociedade mais ética, mais justa, mais honesta.

“Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te” (Ap 3, 16). Não existe meio termo! Ou se é honesto, ou se é desonesto. Com tudo que se apresenta nos jornais, este parece ser o grande desafio da educação moderna brasileira.